Educação Sexual para Neuroatípicos

Educação Sexual para Neuroatípicos

Você já assistiu a serie do Netflix chamada “Atypical”?                                            

Super interessante e se ainda não viu, você deveria ver!

De uma forma muito resumida, ela fala sobre um jovem de 18 anos do espectro autista que decide ter uma namorada. A série não é só sobre uma pessoa do espectro autista namorar, mas sobre questões familiares, medos, limites, sentimentos, infantilização…

Vamos lá falar um pouquinho de o porquê devemos discutir sobre educação sexual em neuroatípicos??

Vou ampliar essa discussão aqui para todos os jovens portadores de alguma “necessidade”. Incluo aqui além dos jovens do espectro autista, os jovens com trissomia do 21 (Síndrome de Down), adolescentes de espinha bífida / mielomeningocele e os portadores de doenças crônicas e outras malformações ou síndromes genéticas!

Se você se interessar mais sobre o assunto, segue um artigo bem interessante:  Walters FP, Gray SH. Addressing sexual and reproductive health in adolescents and young adults with intellectual and developmental disabilities. Curr Opin Pediatr. 2018 Aug;30(4):451-458. doi: 10.1097/MOP.0000000000000635. PMID: 29846252.

E por que discutir sexualidade na população atípica?!

Dados americanos de 2011 mostram que 17% dos jovens entre 3 e 17 anos tem alguma deficiência de desenvolvimento (inclui quaisquer deficiências desde neurológicas, desenvolvimento, locomoção, visual, etc). No Brasil, o censo de 2010 mostra que chega a quasse 29%  a população  de  0 a 17 anos declarada com algum grau de deficiência.

E o que mais assusta é que essa população tem um risco de cerca de 4 a 6 vezes maior de sofrerem abuso sexual, sendo muitos desses jovens   vítimas de incesto ou abuso de um cuidador.

Esses são dados publicados em 2012 na revista Lancet (Jones L, Bellis MA, Wood S, et al. Prevalence and risk of violence against children with disabilities: a systematic review and meta-analysis of observational studies. Lancet 2012; 380:899–907)  

E esse número pode ser particularmente maior na população não verbal, em que poderíamos apenas contar com mudanças de comportamento como possíveis demonstrações de que algo está errado.
Por isso, precisamos estimular nossos jovens a não se esconder, a verbalizar sobre tudo o que a incomoda.

Sabe-se que a alta dependência de seus cuidadores, a falta de compreensão sobre os diferentes tipos de toque e locais do corpo que podem ser tocados, acrescido da relação com a família que se sente na obrigação continua de proteger essas crianças, chegando a infantiliza-las , além de proibições culturais e crenças  e porque não dizer o despreparo dos pais a discussão sobre sexualidade são  fatores de risco ao abuso sexual.

E só conseguiremos ajudar a evita-lo se tivermos uma conversa franca, leve e de fácil compreensão com esses jovens, falando sobre a anatomia do corpo, sobre sentimentos, sobre sensações e as reações do corpo.

A gente não vai impedir o desenvolvimento do corpo. Jovens no espectro autista ou quaisquer outras necessidades irão evoluir em seus caracteres sexuais. Os hormônios irão aflorar e com isso reações como ereção, desejo e comportamentos como toque e masturbação irão acontecer.

Cabe a nós, cuidadores e profissionais da área de saúde ajudar na compreensão e a respeitar o tempo e a privacidade dos jovens.

A gente sabe que já não é fácil discutir sexualidade em jovens típicos, em jovens atípicos também não será fácil, mas entenda que discutir sobre sexo não quer dizer estimular a relação sexual ou a hipersexualidade, mas sim, dar ferramentas para compreender o que é certo e o que é errado.

A gente briga tanto pela inclusão, vamos então incluir a educação sexual a essa população!?

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